quarta-feira, 15 de abril de 2009

Apenas o Final...

...de três sonetos que jamais logrei terminar.

I

Mas vítima da atroz Melancolia
Passei a amar as trevas como a Lua
Até que ao despertar de um triste dia
Em pânico adentrei a cova nua
Enquanto do alto um anjo me advertia:
— Na morte toda dor se perpetua!

II

Da taça de veneno à tumba escura
Procuro a Morte aos prantos, indeciso.
Talvez no meu suicídio haja a cura,
No túmulo o descanso que preciso;
Porque na escuridão da sepultura
Jamais me lembrarei do teu sorriso.

III

Caminho pelo vale lamacento
De um mundo que morreu de inanição
Enquanto no silêncio do momento
Contemplo a nova presa da Aflição:
Diante de um banquete suculento
Satã devora o próprio coração.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Cântico Impossível

Um cântico de silêncios te escrevi
— Sou fantasma de teu passado morto! —
E no mar de fogo que pulsa em ti
A minha angústia encontrará um porto.

No vale de teus lábios perfumados
Incendiarei as florestas da paixão,
E no teu ventre de ardentes prados
Sepultarei a dor de um pobre coração.

O meu verso será a tua esperança,
A minha loucura te deixará ensandecida;
Hei de libertar em teu seio a criança
Que deixaste para trás sem vida.

E quando enfim chegar a hora certa
Saltarei sobre ti como lobo faminto,
Ou vento que encontrando a janela aberta
Traz o frio do inverno ao teu recinto.

Hás de revelar a nudez de teu encanto,
Bem como a volúpia de teu sangue quente;
Nos teus olhos farei ferver o pranto
E então sem pudor, mui lentamente,

Com minhas presas vou expor a tua chaga,
Beijar-te-ei sem pressa, ressentido,
E como quem um animal feroz afaga
Sussurrarei canções de amor ao teu ouvido.

domingo, 12 de abril de 2009

Liberdade

No túmulo apodrece a Poesia,
Morreu nos meus pulmões a inspiração;
E agora só me resta a decepção
De ver surgir ao longe um novo dia.
Mas mesmo quando à lágrima me rendo
Quisera uma canção enfim compor
E, livre das amarras desse amor,
Sentir no peito o coração batendo!