quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Matusalém

Nenhuma ruga grave ou irrisória
Fará do meu sorriso de desdém
Um hino que se canta lá no além
Enquanto o Sol se põe na minha história.

Que importa se se vive mais de cem¹
Na hora que lembramos — Ó memória! —
Que, sempre na procura de uma glória,
No afã de se viver a Morte vem?

Tornar-se velho foi o meu pecado,
A culpa cuja dor me faz sangrar
E o crime pelo qual serei amado.

Na infância conseguia até voar,
Mas hoje permaneço aqui parado
Com medo de chegar a algum lugar.


¹ Cf. livro de Gênesis, capítulo V, verso 27: "E foram todos os dias de Matusalém novecentos e sessenta e nove anos, e morreu."

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