sexta-feira, 18 de abril de 2008

Rude Awakening

Nenhuma tempestade escurecia
As nuvens semelhantes ao cristal,
E nem um só matiz do antigo Mal
Manchava o alvorecer daquele dia.

O Amor lhe parecia tão real
Que mesmo a pertinaz Monotonia
Vestida de gardênias exibia
Um riso doce, leve e angelical.

Provou sem medo do êxtase o apogeu
E o mundo lhe sorriu bondosamente
Por obra da magia de Morfeu.

Então abriu os olhos de repente
E o sonho que sonhava se perdeu
Na dor de um pesadelo permanente.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Distante Letícia*

Menina de olhos marejados,
Musa da minha fantasia!
Ergo-te uns versos deslumbrados
Em cada instante de agonia.

As tuas lágrimas silentes
Me ferem mais do que Cupido
Que com as suas flechas quentes
Nos faz amar o indefinido.

Mira, belíssima princesa,
O Sol que fulge em teu jardim
E encontra nessa chama acesa
O amor que não conhece fim.

Então me aceita como amigo,
Me ama sem medo — corpo e mente —
E vem depressa, vem comigo,
Viver um sonho novamente!


* N.B.: Do latim laetitia, felicidade.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Suicídio Nº 2

Com medo de sonhar passei os dias,
E mesmo aquele amor outrora ameno
Cavou em meu semblante mais sereno
Um poço de tristezas e agonias.

Cruel, a Solidão me fez pequeno,
Pisou as minhas frágeis alegrias
Até que numa dessas noites frias
Enfim provei do cálice o veneno.

À Morte a minha boca disse sim
Sorvendo do Sepulcro os mil punhais;
Mas quando a minha dor chegava ao fim,

Ouvi ao longe vozes infernais
Zombando: — Fácil é morrer assim!
Difícil é viver um pouco mais...