segunda-feira, 14 de maio de 2007

Do Desejo de Precipitar-se

Porventura será numa palavra vã
Que a Noite, do poeta a bela cortesã,
Dirá àquele que dorme um descanso sem medos
Como o Amor se revela em antigos segredos?

Envolta no negror de um estrelado véu
Virá a musa noturna, imperatriz do céu,
À cama do poeta, amante do perfeito,
Para dar-lhe um prazer satânico e suspeito.

De posse de um segredo escrito sem sinais
Ele beberá o mel que tanto suplicais;
E viajará então a uma cidade impura
Para sepultar ali a semente da ventura.

Mas todo dom exala o veneno do absinto
E até o poeta irá provar a dor que sinto:
Esse estranho licor que queima na garganta,
Como o vinho que mata, inspira e nos encanta.

Porque terás, infausto odiado e querido,
O mesmíssimo fado outorgado a Cupido:
Que toda flor que brota em meio à escuridão
É bastarda da mais infeliz decepção.

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