terça-feira, 19 de junho de 2007

Acalanto

Mãe, canta aquela canção
Que eu quero tanto escutar —
Uma canção de ninar
Que jamais se ouviu em vão,
Um som que não se desfaz —
Para que eu descanse em paz.

Mãe, não precisa chorar.
Teu filho só quer ouví-la
Nessa noite mais tranqüila
Em que a música está no ar.
Mãe, canta assim bem de leve
Como quem um verso escreve.

Sei que agora é diferente,
Que mesmo o Sol nunca brilha
Sobre os espinhos da trilha
Que me levou sempre em frente
Através do árduo caminho
Para tão longe do ninho.

Mãe, canta mais uma vez.
Sinto-me só e sonolento
Como se eu fosse um lamento
Que o coração não desfez
Em meu sangue dissoluto
Ou nas batidas de luto.

Tua voz será meu guia
Quando já desperto eu for
Enfrentar o medo e o horror
De sair na manhã fria
Cantando a sós e sozinho
A canção do antigo ninho.

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