domingo, 24 de junho de 2007

Adormecer

And I find it kinda funny,
I find it kinda sad,
The dreams in which I'm dying
Are the best I've ever had
— Gary Jules, “Mad World”
Vejo um demônio caminhando pela noite
Atrás daqueles que se mostram sonhadores
A fim de impor-lhes o castigo de um açoite
Cujo fel lhes faz descobrir novos terrores.

E foi por medo desse arauto da agonia
Que várias vezes vim dormir as madrugadas
Deslizando uma faca de lâmina fria
Pelos meus pulsos de veias frágeis azuladas

Para depois despertar na manhã seguinte
Ensangüentado, fraco e bem menos propenso
A revidar cada palavra, cada acinte,
Que venham me dizer em nome do bom-senso.

Assim só me resta adentrar a escuridão
Com medo de gritar, sem ter como vencê-lo
Nas longas horas de dor que se seguirão
Quando na noite te revelas, Pesadelo —

Monstro de várias faces mas um só motivo;
Disposto a me fazer sangrar nessa tortura
Ao beber cada gota do vermelho vivo
Que flui de minhas veias quando ele as perfura.

Todo crepúsculo anuncia vossa presença
Entre as miragens do meu belo adormecer
De modo que é bem mais comum do que se pensa
Rever a Morte a cada novo anoitecer.

Mas numa dessas noites eu pedi socorro
E, como se eu visse-me em meio a um declive,
Descobri com horror que os sonhos em que morro
São também os melhores sonhos que já tive!

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