Deserto em Mim
Queria compor um verso de alegria,
Ou gritar bem alto um grito de amor —
"Vejo apenas jardins!", eu exclamaria
Ao expulsar dos meus lábios toda dor.
No meu corpo condoído e maltratado
A rosa do prazer e mesmo a rima
Fariam surgir no céu plúmbeo e gelado
Um anjo para nos guiar lá de cima.
O Mundo seria assim uma só voz
A cantar canções de serenidade
Na certeza que poucos dias após
Poderíamos também rir de verdade!
Haveria espaço para tudo e todos
Nas estrofes do meu sangue e poesia;
Pois, livre das razões e dos engodos,
Seria fácil ver outra melodia.
Mas todo sonho não passa de um sonho
Quando teu coração maldiz a sorte
Nas garras desse cúmplice medonho:
O Medo, e sua melhor amiga, a Morte.
Apesar disso meu ser não se cala
E há de passar os anos procurando
A manifestação fugidia e rala
De um amor que não seja tão nefando;
Ou talvez, se for meu caminho certo,
Hei de encontrar alhures o jardim
Cuja miragem vi em cada deserto
Que descobri fazer parte de mim.
2 comentários:
esse eu não conhecia... e como todos os seus poemas, mais uma obra-prima! difícil ver-te compondo não-sonetos. mas este não perde em nada para eles. parabéns!
Obrigado, Alessa :^)
Na verdade essa história de soneto é recente. Antes eu só escrevia poemas (O "Deserto em Mim" é bem anterior aos sonetos postados aqui). Passei a gostar de sonetos por serem, em certa medida, muito mais fáceis de lidar do que os poemas (risos)
Beijão!
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