Tríade das Sombras
I — Penumbra
Procuro pela noite mais escura
No cárcere simbólico da vida
E assim alargo minha sepultura
Correndo atrás da treva proibida.
Espero todavia que meus passos
Me guiem através de outro caminho
Distante desses pútridos espaços
Aonde fraco e pálido eu definho.
E vago pelas ruas solitário
Gritando meu pavor em cada porta,
E às vezes adormeço num ossário
Pois nada nesse mundo me comporta!
Um dia a escuridão vai me levar
E nela encontrarei o meu lugar...
II — Queda
Diante da verdade tenho medo
E assustam-me as paixões silenciosas
Que escrevem nos sepulcros um segredo
E plantam só jardins de negras rosas.
E apraz-me ver nas curvas do caminho
Cadáveres roídos pelo crime
De ter provado o sangue pelo vinho
Num grito que pavor algum exprime.
Porém se porventura me entristeço
Escondo-me num túmulo profundo
E lá as trevas me viram pelo avesso
E volto sorridente para o mundo!
Sabei que se de noite choro e cismo
A sombra sempre foi o meu abismo...
III — Ascensão
O Sol tornou-se tudo que abomino
E grito de pavor pela manhã
Ao vê-lo trespassar o véu divino
Que a noite costurou em seu afã.
Anseio pelas horas mais escuras
Veladas por demônios sonolentos —
As horas em que os medos e loucuras
Espalham seus segredos e tormentos.
Somente a noite cura as minhas dores
E dá-me aquela força desmedida
Capaz de derrotar os mil pavores
Que a luz do dia impõe à minha vida!
Ah, sofro de um terrível desatino:
Viver na escuridão, eis meu destino...
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