domingo, 7 de outubro de 2007

À Espera do Sol

(Uma Fábula Contemporânea)


A noite desenhara mil estrelas
Nas páginas da dor que mora aqui
E lá, sem que ninguém pudesse vê-las,
Ouvi-as sussurrarem entre si:
"A treva que revela nossas cores
Também esconde a face que sorri,
E faz do sonho um poço de pavores:
A treva que revela nossas cores!"

Após alguns minutos uma voz
Seguiu a anterior em seu lamento:
"Acaso não sabeis que vindo a nós
Um dia que renasça do tormento,
Nenhuma escuridão fará brilhar
A luz de nossos filhos sem alento?
E mesmo a cor azul do vasto mar
Nenhuma escuridão fará brilhar!"

"Se nasce o dia minha voz se cala...",
Chorou ao longe alguma estrela fria,
"Nenhum mortal verá da sua sala
A estrela de algodão que lhe sorria
Naquelas noites tristes e nubladas,
Porque então morrerei de nostalgia
Lembrando que vaguei por entre fadas
Naquelas noites tristes e nubladas!"

Aos poucos o silêncio se refez
Deixando apenas mágoas rancorosas.
Pensei nas contas pagas mês a mês,
No verme que devora as minhas rosas,
E enquanto o Sol surgia no horizonte
Dancei e ri da minha estupidez
Bebendo da paixão na própria fonte
Enquanto o Sol surgia no horizonte!

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