segunda-feira, 13 de abril de 2009

Cântico Impossível

Um cântico de silêncios te escrevi
— Sou fantasma de teu passado morto! —
E no mar de fogo que pulsa em ti
A minha angústia encontrará um porto.

No vale de teus lábios perfumados
Incendiarei as florestas da paixão,
E no teu ventre de ardentes prados
Sepultarei a dor de um pobre coração.

O meu verso será a tua esperança,
A minha loucura te deixará ensandecida;
Hei de libertar em teu seio a criança
Que deixaste para trás sem vida.

E quando enfim chegar a hora certa
Saltarei sobre ti como lobo faminto,
Ou vento que encontrando a janela aberta
Traz o frio do inverno ao teu recinto.

Hás de revelar a nudez de teu encanto,
Bem como a volúpia de teu sangue quente;
Nos teus olhos farei ferver o pranto
E então sem pudor, mui lentamente,

Com minhas presas vou expor a tua chaga,
Beijar-te-ei sem pressa, ressentido,
E como quem um animal feroz afaga
Sussurrarei canções de amor ao teu ouvido.

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