Ars Coloris
Conheço artistas do prazer e pesadelo
Cujos quadros pintados sem a luz do Sol
Parecem implorar à sombra do arrebol
Um novo horror com franco e persistente apelo.
Ao saber dessa súplica vimos do Abismo
Para então adentrar sinistras galerias
E descobrir porque tão belas alegrias
Sucumbem ao rancor desse tinto cinismo.
Há sangue nas paredes (molduras jamais!),
E em tudo que meu estranho olhar se detém
Um cadáver infante cavalga no além
A imagem distorcida de amores iguais.
O matiz de uma aquarela ousa me dizer
Que do pecado colhe-se frondosa messe
Pois Deus do crime cúmplice jamais se esquece
E há de punir no corpo esse carnal poder.
Odeio vossas obras, pálidos artistas!
A noite que nos palcos da vida encenais
Nunca vencerá aquela dos céus infernais;
Porque a treva sublime de vossas conquistas
Não passa de um esquálido e pungente raio
Tirado à matriz da melancolia morbosa
Que viceja no tédio qual funérea rosa
Na tumba nua sob as lágrimas de maio.
E o que vomita vossa aquarela incolor,
Mesmo frígido e exposto ao paladar do verme,
É menos do que prova vosso sangue inerme
Dessa trêmula, imensa e sempre eterna dor.
Um comentário:
Criou um mundo inteiro ai! Apesar das imagens gastas é impossível não vibrar com toda essa atmosfera, com esse rancor, com essas cores vividas.
Muito bom.
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