Chuva
— Uma elegia à lágrima que cai...
Chegou trazendo sombra à primavera
Em gotas transparentes e viscosas
Que abriram no jardim uma cratera.
Cruel, sequer poupou as frágeis rosas
Que ousaram exibir naquele dia
A luz de suas cores mais vistosas.
Tornou-se mágoa tudo que sorria,
E os pássaros cantaram com tristeza
As águas dessa grã melancolia.
No túmulo morreu a vela acesa,
No céu silenciou o bem-te-vi,
Tornou-se amarga a súplica indefesa,
Sangrou no mar, falou-me sobre ti,
E sua voz batendo na janela
Jogou na eternidade o que esqueci.
Pintou no coração uma aquarela —
Matizes de um horrível carmesim,
Mas disse o que somente a dor revela.
Caindo sobre as páginas sem fim
Desfez as minhas doces ilusões,
E nunca mais ficou longe de mim.
Cessando os ventos, raios e trovões,
A densa tempestade arrefeceu
Depois de transbordar os meus pulmões.
E nada mais restou que seja meu
Na lama que cobriu a estreita rua,
E embora o Sol ressurja no apogeu,
Na minha vida a chuva continua.
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