quarta-feira, 25 de julho de 2007

Chuva

— Uma elegia à lágrima que cai...

Chegou trazendo sombra à primavera
Em gotas transparentes e viscosas
Que abriram no jardim uma cratera.

Cruel, sequer poupou as frágeis rosas
Que ousaram exibir naquele dia
A luz de suas cores mais vistosas.

Tornou-se mágoa tudo que sorria,
E os pássaros cantaram com tristeza
As águas dessa grã melancolia.

No túmulo morreu a vela acesa,
No céu silenciou o bem-te-vi,
Tornou-se amarga a súplica indefesa,

Sangrou no mar, falou-me sobre ti,
E sua voz batendo na janela
Jogou na eternidade o que esqueci.

Pintou no coração uma aquarela —
Matizes de um horrível carmesim,
Mas disse o que somente a dor revela.

Caindo sobre as páginas sem fim
Desfez as minhas doces ilusões,
E nunca mais ficou longe de mim.

Cessando os ventos, raios e trovões,
A densa tempestade arrefeceu
Depois de transbordar os meus pulmões.

E nada mais restou que seja meu
Na lama que cobriu a estreita rua,
E embora o Sol ressurja no apogeu,

Na minha vida a chuva continua.

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