terça-feira, 21 de outubro de 2008

O Vitorioso

Trajando uma armadura ensangüentada
Impus a Satanás a minha lei
E os déspotas que não decapitei
Curvaram-se perante a minha espada.

Mas quando finalmente me fiz rei
Após haver ferido o próprio Nada,
Nos céus que me serviram de morada
Cadáveres e sombras encontrei.

Por fim, apunhalado pela Sorte,
Transpus abismos, túmulos e mares
Sem bússola, sem asas, sem um norte...

E longe dos prostíbulos e altares
Nas telas da Tragédia e da Morte
Esboço pesadelos singulares.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Solitude

De mágoas e silêncios me recubro
E cego fiz da dor felicidade
Porém a sós, diante da verdade,
Nos olhos uma lágrima descubro.

Envolto pelo manto da saudade
O meu sangue se torna menos rubro
E nessas noites gélidas de outubro
Caminho pelas ruas da cidade.

Procuro algum afeto e companhia,
Mas eis que Satanás me arrasta então
Às tumbas da necrópole sombria!

E assim após vagar sem direção
No espelho de uma lápide vazia
Contemplo a minha própria solidão...

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Maria Mariana

Maria veste preto todo dia,
Possui um riso meigo de menina,
Conhece algum mistério que fascina
E nada iguala a sua melodia.

Maria curte rock e gelatina
E quando ouço o seu grito de alegria
Talvez seja verdade que Maria
Não sabe se começa ou se termina.

Se chora, se reclama ou se sorri
A sua voz comove e nos encanta —
Maria mora longe, mora aqui!*

Falaram que Maria não é santa
Mas ela diz que não tá nem aí —
Maria não compõe, Maria canta!


* N.B.: no coração.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Inevitável

Ao meu primeiro amor


Amei-te como se ama o indefinido!
Amei-te demais, bem mais do que eu quis...
Mas qual rosa de fúnebre matiz
Negaste o meu amor e ressentido

Joguei no lixo os versos que te fiz,
Busquei na solidão algum sentido
E aqui cheguei, cansado e malferido,
Talvez um pouco triste mas feliz.

Feliz por ter sonhado um sonho vão,
Porque te desejei de corpo e mente,
Porque te amei sem medo e sem razão.

E triste por saber que inconseqüente
Esconde-se em meu peito um coração
Capaz de apaixonar-se novamente.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Assombração

As crianças com medo
Foram dormir mais cedo
Naquela noite fria
Em que juntou o vento
Desespero e agonia
Num único lamento.

Nas igrejas, nos bares,
Nas ruas e nos lares
A tristeza suicida
Exibiu o seu rosto
E nos jardins da vida
Floresceu o desgosto.

Num repugnante lance
A loucura e o romance
Extinguiram o amor
Para que finalmente
A solidão e a dor
Reinassem livremente.

Amargo fez-se o mel,
O bom se fez cruel,
Azedo fez-se o vinho,
E até mesmo o futuro
Nas previsões do advinho
Surgiu nublado e escuro.

Completando o mistério
Num velho cemitério
Uma lápide atesta:
"Nasceu a escuridão,
Foi-se a luz, nada resta!
Somente as sombras são..."